História do Valado
O comandante Joaquim Callixto Ferreira fala-nos, nas Matas de Frei António, do cavername de um trirreme fenício.
Existem indícios de uma povoação romana bastante civilizada, conforme as inscrições e sepulcros descobertos, no entanto, o povoamento da vila parece só ter começado, efetivamente, no século XIII, com a drenagem do Paúl da Cela a pedido do Rei D. Dinis.
Na verdade, foram muitos e variados os agregados humanos, alguns de requintada civilização, que por aqui se instalaram desde o início do milénio até à nacionalidade.
Entre outros, Fenícios, Romanos, Godos, Celtas e Árabes.
De acordo com Domingos Rebelo, o “…erudito monge franciscano, académico e lexicógrafo Frei Joaquim de Santa Rita de Viterbo (1744/1822) no seu precioso Elucidário (Lisboa, 1865) se refere à florescente povoação Romana em terras do Valado (lugar de Alcobaça) de que é monumento significativo o sepulcro (1,98×0,66×0,55 metro) que a Dama Romana Avicena Silvano havia dedicado à mãe Dúcia ornamentando-o com curiosas figuras tutelares e mitológicas de 2 Génios e do Deus Apolo com as tradicionais 9 Divindades ou Musas presidindo às artes liberais. Este sepulcro fora acidentalmente descoberto em 1780 por um por um lavrador e levado posteriormente para Lisboa.” (Rebelo, 1997:9).
“Para além do túmulo do Valado com as sete musas, há mosaicos, moedas, olaria, sepulturas, etc., que provam uma longa permanência romana nesta região.
À volta da ‘lagoa’ que se estendia de Alfeizerão a Cós (entrando o mar por um estreito junto à Ponte das Barcas), fixaram-se pois os casais romanos e luso-romanos, surgindo assim pequenas povoações como o Valado, para aproveitamento das terras férteis e aprazíveis, bem como o usufruto de termas da região.
Durante o domínio árabe poucas alterações se podem ter dado, havendo documentos de incontestável valor, como a torre mourisca, fronteira às termas da Piedade, e que deu a designação ainda hoje mantida de Torre (Pinhal da Torre).” (1)
Em 1259 foi outorgada a 1.ª Carta de Povoação pelo D. Abade Estêvão Martins. O lugar de Valado era então conhecido como Herdade do Rio de Moinhos.
Em 1260 o Mestre Domingos doara ao Mosteiro de Alcobaça uma fração da sua herdade agrícola de Valada.
“Pelo auto de demarcação das Igrejas dos Coutos, e com a data de 8 de agosto de 1296, já existia a Granja do Valado.
Os Monges davam foral (regalias e direitos) a todos os que quisessem povoar determinado local, que convinha àqueles para fins industriais ou alargamento das culturas – foi o que sucedeu com o Foral de Águas Belas ou Rio de Moinhos, onde, a ter havido um núcleo urbano, trabalharia na metalurgia.
As ferrarias eram lugares onde se faziam armas (…) e a primitiva Ferraria dos Coutos era em Valado, propriamente nem Águas Belas, onde o ferro era daí extraído de minas pelos monges.” (1)
Foram os cistercienses os grandes impulsionadores da drenagem dos campos (antigos pântanos e pauis, deixados pelo recuo do mar, que outrora cobrira a região), e da sua adaptação à agricultura. Aqui instalaram uma das 10 granjas agrícolas dos coutos, na qual fundaram, no século XIV, uma “Escola de Engenharia Hidráulica e Agrícola”, na Quinta do Campo – hoje transformada numa belíssima unidade de turismo de habitação.
“Num velho manuscrito pode-se ler: ‘Ainda no ano de 1315 o mar fazia um lago que chegava ao Valado […].’” (1)
“Era o braço do mar que espraiava-se pelo Valado e pela Cela e ia banhar a Fervença e o lugar de Cós, porém, com o correr do tempo, a invasão das dunas marítimas acabara por fazer desaparecer aquela lagoa do interior, formando o esteiro do rio e o assoreado porto da Pederneira.” (Rebelo,1997:11).
“Em 1439 já estava edificada a Igreja de Santa Maria de Vallada.
Em 1521 emprazaram-se os brejos do Valado a Vasco de Pina e D. Isabel de Andrade.
Valado seria, a par de outros, um dos lugares mais difíceis para povoar, já que os terrenos alagados estariam infestados pela malária, e somente os terrenos altos possibilitariam a agricultura.
Ao abade Frº. Manuel de Mendonça, primo do marquês de Pombal, se deve o enxugo dos campos do Valado, o que trouxe considerável aumento de riqueza do domínio fradesco do Mosteiro de Alcobaça.
Foi também o Marquês que mandou fazer o estudo do saneamento dos campos, com a derivação urgente dos rios, construção das portas da maré, enfim, a forma de transformar o grande paul em terrenos de cultura.” (2)
Em 1780 arruinada a igreja primitiva (a igreja de Santa Maria da Valada) erigiu-se uma outra mais ampla, tendo como orago São Sebastião, de uma só nave, com teto em “caixotes de boa madeira”, capela-mor, retábulo, pia batismal, devidamente paramentada e com belas imagens de São Sebastião e Nossa Senhora da Conceição no altar-mor, construída em local mais acessível aos fieis em terras da Quinta do Camp, embora já fora do núcleo urbano da Granja primitiva.
Mas é depois de 1780 que Valado vai conhecer uma época de grande prosperidade devida à intensa e eficiente exploração dos seus solos bens férteis.
Após a extinção das ordens religiosas em 1834, o mosteiro e a Quinta do Campo foram vítimas do saque popular. “No Mosteiro, ele incidiu no que parecia mais valioso e por tudo que fosse alvo de destruição marcante para a ira popular.
Na Quinta do Campo, este mesmo percurso foi seguido. Foram pilhados os celeiros que armazenavam- para a época- enormes quantidades de produtos agrícolas cujo valor não oferecia dúvida poupando-se as paredes desses edifícios que não perdiam a sua funcionalidade, para concentrar a marca da destruição no pequeno convento e na igreja que limitavam pelo sul a cerca da Granja e cuja utilização não oferecia qualquer utilidade material nem atual nem futura.
Enquanto o Mosteiro foi sendo destruído e maltratado aos poucos, sendo-lhe nomeados curadores que fizeram o que puderam para o preservar, a Quinta do Campo, autónoma, demarcada (Tombo de 1782 solicitado pelo D. Abade Geral e dado por encerrado em 25 de Abril de 1783) e menos emblemática, foi vendida em hasta pública.
Veio a ser propriedade de um súbdito espanhol, D. Manuel Yglesias, antepassado da família que ainda hoje a detém e mantém, sendo a única das dez Granjas primitivas que sobrevive em bom estado e é visitável.
Data dessa época e em consequência dessa compra, o destaque do Valado, só chamado ‘dos Frades’ quando a influência e os méritos destes já não tinham presença e relevância local. Apesar de entalado e, por isso, limitado entre Alcobaça e a Nazaré, que só então surgira, herdando o prestígio da Pederneira e a força do seu santuário da ‘senhora da Nazaré’, o prodigioso trabalho dos Frades tornando disponível como terreno arável o que fora água e pântano e a visão do novo proprietário dessa enorme área deram-lhe o impulso que lhe permitiu um inesperado ganho de importância entre as suas vizinhas.
É que, estando em construção a linha de Oeste e sendo durante muitas dezenas de anos o caminho-de-ferro o transporte por excelência, D. Manuel Yglesias, que iria ver expropriada parte da Quinta do Campo necessária para a passagem da linha, em vez de a vender, ofereceu-a com a condição de ser implantada na sua Quinta a estação que se chamaria do Valado e que serviria Alcobaça e Nazaré.
O desenvolvimento das duas (no setor monumental e agrícola- Alcobaça-, no sector a que hoje se chamaria Turismo- a Nazaré, que chegou a ser uma das mais frequentadas e valorizadas praias de banhos e lazer) passava pelo Valado, dando lugar à sua valorização, à criação de serviços e de acessos e determinando-lhe um crescimento e uma importância que o fizeram passar de pequena povoação a Aldeia- possivelmente a maior de Portugal” (Pereira, 2001”
Em 1912 o concelho da Pederneira passa para a Nazaré e o Valado passa a categoria de freguesia.
Em 1991, a povoação de Valado dos Frades foi elevada à categoria de Vila pela lei n.º 104/91 de 16 de agosto, comemorando-se o dia da vila a 20 de junho.
A elevação de Valado de Frades a vila seguiu os seguintes trâmites legais:
- A Comissão Parlamentar de Administração do Território, Poder Local e Ambiente, reuniu no dia 6 de junho de 1991 e apreciou à luz da lei n.º11/82, de 2 de junho (regime da criação e extinção das autarquias locais e de designação e determinação da categoria das povoações), os projetos de lei entrados na Mesa da Assembleia da República, tendo considerado em condições de subir a Plenário para discussão e votação, entre outros, o projeto de lei n.º740/V- relativo à elevação da povoação Valado dos Frades à categoria de vila (3).
- Na reunião Plenária de 20 de junho de 1991 (4) procedeu-se à votação, na generalidade, na especialidade e em votação final global, entre outros do projeto de lei n.º 740/V.
- A Assembleia da república decretou, nos termos dos artigos 164.º, alínea d), e 169.º, n.º 3, da Constituição que “a povoação de Valado dos Frades, do concelho da Nazaré, é elevada à categoria de vila” (5).
- A povoação de Valado dos Frades, do concelho da Nazaré, é elevada à categoria de vila. (6)
(1) – Texto retirado do Projeto de lei n.º 740/V publicado no Diário da República, II Série- A, número 44, 4 de maio de 1991, pág.1120.
(2) – Texto retirado do Projeto de Lei n.º 740/V publicado no Diário da República, II Série- A, 44, 4 de maio de 1991, pág.1120-1121.
(3) – Ver no Anexo I, ponto 2, o Relatório da Assembleia da República publicado no Diário da República, II Série, n.º 55 de 12 de junho de 1991.
(4) – Ver no Anexo I, ponto 3, parte da Reunião Plenária de 20 de junho de 1991 publicada no Diário da República, I Série, n.º 96 de 21 de junho de 1991.
(5) – Ver no Anexo I, ponto 4, Decreto n.º 406/V publicado no diário da República n.º 64 de 22 de julho de 1991, II Série- A, pág.1506.
(6) – Ver no Anexo I, ponto 5, Lei n.º 104/91 publicada no Diário da República, I Série- A, n.º 187 de 16 de agosto de 1991.